sábado, 28 de fevereiro de 2015

Carta argumentativa

Dourados, 14 de novembro de 2013
Ao  Redator do Jornal O Progresso
Caro Senhor

    Eu li uma notícia que foi veiculada nesse jornal no dia 11 de novembro de 2013, na qual o autor da reportagem fez a seguinte afirmação: “O índice do IDEB da cidade de Dourados ficou muito baixo, e parte dessa queda é devida ao resultado obtido nas escolas indígenas que foi muito baixo.” É baseado nessa afirmação que estou escrevendo essa carta.
   Para quem não conhece a realidade indígena fica fácil simplesmente acusá-las do fracasso escolar da cidade, sendo assim quero fazer algumas perguntas e também algumas colocações.
   Em primeiro lugar, quero saber quem elaborou a prova que foi aplicada nas nossas escolas. Essas pessoas levaram em consideração o fato das escolas indígenas terem um currículo diferenciado? É, porque se vocês não sabem, a constituição brasileira garante as comunidades indígenas um currículo diferenciado adaptado à realidade específica de cada aldeia ou tribo.
   Também é dito que o número de alunos desistentes faz a média das notas caírem. Isso tem sido um problema nas nossas escolas. Esse grande número de alunos desistentes tem que ser levado em consideração. Muitos desses alunos saem da escola para trabalharem para sustentar a si mesmos ou as suas famílias; temos também o fato de algumas alunas ficarem grávidas e deixarem de vir à escola: uma adolescente grávida frequentar uma escola rural é muito difícil. Pergunto: é justo abaixar a nota daqueles que fizeram as provas por causa desses que deixaram de frequentar a escola?
   E temos ainda um terceiro motivo, não menos importante, que é o atual modelo de educação que mede o aprendizado dos alunos simplesmente dando uma nota. Quando um aluno faz uma prova que “vale nota”, ele se empenha porque tem medo do fracasso, mas essas provas do governo não “valem nota”, então o aluno faz de qualquer jeito, apenas para ficarem livres dessa obrigação.
   Sendo assim, quero dizer que não é justo acusarem as escolas indígenas pelo fracasso no desempenho municipal na Prova Brasil. Em vez disso, porque o estado não proporciona meios para melhorar a realidade de cada escola?
   Espero ter sido entendido nos meus questionamentos.

                                       Guilherme Antunes de Souza – índio guarani

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