Dourados, 14
de novembro de 2013
Ao Redator do Jornal O Progresso
Caro Senhor
Eu li uma notícia
que foi veiculada nesse jornal no dia 11 de novembro de 2013, na qual o autor
da reportagem fez a seguinte afirmação: “O índice do IDEB da cidade de Dourados
ficou muito baixo, e parte dessa queda é devida ao resultado obtido nas escolas
indígenas que foi muito baixo.” É baseado nessa afirmação que estou escrevendo
essa carta.
Para quem não
conhece a realidade indígena fica fácil simplesmente acusá-las do fracasso
escolar da cidade, sendo assim quero fazer algumas perguntas e também algumas
colocações.
Em primeiro lugar,
quero saber quem elaborou a prova que foi aplicada nas nossas escolas. Essas
pessoas levaram em consideração o fato das escolas indígenas terem um currículo
diferenciado? É, porque se vocês não sabem, a constituição brasileira garante
as comunidades indígenas um currículo diferenciado adaptado à realidade
específica de cada aldeia ou tribo.
Também é dito que o
número de alunos desistentes faz a média das notas caírem. Isso tem sido um
problema nas nossas escolas. Esse grande número de alunos desistentes tem que
ser levado em consideração. Muitos desses alunos saem da escola para
trabalharem para sustentar a si mesmos ou as suas famílias; temos também o fato
de algumas alunas ficarem grávidas e deixarem de vir à escola: uma adolescente
grávida frequentar uma escola rural é muito difícil. Pergunto: é justo abaixar
a nota daqueles que fizeram as provas por causa desses que deixaram de
frequentar a escola?
E temos ainda um
terceiro motivo, não menos importante, que é o atual modelo de educação que
mede o aprendizado dos alunos simplesmente dando uma nota. Quando um aluno faz
uma prova que “vale nota”, ele se empenha porque tem medo do fracasso, mas
essas provas do governo não “valem nota”, então o aluno faz de qualquer jeito,
apenas para ficarem livres dessa obrigação.
Sendo assim, quero
dizer que não é justo acusarem as escolas indígenas pelo fracasso no desempenho
municipal na Prova Brasil. Em vez disso, porque o estado não proporciona meios
para melhorar a realidade de cada escola?
Espero ter sido
entendido nos meus questionamentos.
Guilherme Antunes de Souza – índio guarani
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